O ADORNO DA VAIDADE

Na noite dessa terça-feira, dia 20, tivemos mais uma reunião do Fórum Permanente de Cultura que, mediante a gravidade das informações veiculadas ao longo da semana, sobre o afastamento do então secretário de Cultura Kleber Adorno, prometia um debate tenso, com palavras e olhares tão amargos como decepcionados. No início se fazia notória, no rosto de cada participante, a decepção e o cansaço de sete anos de luta contra uma gestão fraudulenta que, no final, ainda ameaça terminar como se nada tivesse acontecido. Entre as acusações apresentadas estão: estelionato, formação de quadrilha e favorecimento de empresas privadas em licitações.  

A corrupção está presente, de tal maneira, em todas as pastas dos nossos serviços públicos, que eu compararia um político honesto a um jovem que, no auge da sua virilidade, fora convidado a viver, por quatro anos, no mais requintado Puteiro de uma cidade, com o nobre direito de desfrutar, com muito gozo, das mais fogosas de suas messalinas. Mas, ainda assim, escolhera de bom grado manter intocada a sua castidade. É muito fácil se deixar tentar por um erro que traga tantos benefícios quanto o dinheiro possa comprar. Difícil é guardar no coração, após anos de esforço, estudo e dedicação, amor suficiente para entendermos que, vez ou outra, serão meia dúzia de aplausos ou alguns sorrisos tímidos, o nosso único pagamento por um dia inteiro de trabalho. E esse tem sido o pagamento recebido pelos Trabalhadores da Cultura no estado de Goiás ao longo desses anos. 

Logo, alguns sorrisos se esboçaram, trazendo todos de volta à lucidez de que somos artistas e não devemos nos manifestar de outra maneira senão com a alegria estampada no rosto. E, num lapso de sanidade, desses que não nos visitam com tamanha frequência, dado que somos quase sempre tomados pelas rédeas do “bom comportamento” social, nosso companheiro Leo Pereira, um desses raros seres capazes de enxergar uma verdade que, de tão óbvia, torna-se, para todos os que ainda não se despiram dos olhos egoístas da vaidade, um enigma indecifrável: que viemos ao mundo para semear as sementes, antes que possamos colher os tão desejados frutos desse deleite, afirmou o que parecia inegável: “Vamos então voltar para as ruas”. O que mais teríamos a fazer, se a vitória que buscamos não é o fim, propriamente dito, mas o caminho o qual trilhamos?

Quem nunca sentiu no peito uma vontade imensa de sair as rua e dizer tudo o que pensa? Bando de Canalhas, Filhos da Puta, Ladrões! Ou partir logo para a violência, sem medir as consequências, ou as vidas que possam ser perdidas numa barbárie? Nenhuma ofensa pode fazer do ofensor algo melhor que o ofendido, muito pelo contrário, pode transformar-nos em déspotas de nós mesmos. Sairemos às ruas, sim, para dizermos o que pensamos, mas, porque não, aprender um novo pensar: de que a raiva que sentimos não nos faz melhores do que eles. Logo, ao invés de raiva, ironia. É melhor fazer rir do que chorar. Somos homens livres quando nos tornamos a moeda de nós mesmos. Assim nos libertamos do perigo de acabarmos ceando à mesa, imunda e farta, desses tão criticados “Ladrões da Vaidade Humana”. E, assim, faremos da injustiça algo menor que o despreso que sentimos e não de nós a presa fácil dos injustos. Nenhum ladrão roubaria algo que para si mesmo não tenha um valor considerável e, para estes que nos roubam, apenas um bem tem o valor capaz de saciar o desejo ardente das suas almas: o tão desejado “Dinheiro Público”. Resta-nos sentir pena ou, porque não, um leve desprezo por pessoas que se saciam com tão pouco. 

Decididos data, hora e local, todos se dispersaram para os seus afazeres, com a nobre missão de levar adiante o chamado para mais uma Manifestação Pública dos Trabalhadores da Cultura do Estado de Goiás. Se seremos ouvidos ou não, isso não é tão importante quanto mostrarmos o que queremos e “como” queremos; quanto estar nas ruas e dizermos o “quanto valemos”.  A rua é, sem nenhuma dúvida, o verdadeiro lar de todo artista. Infelizes daqueles que um dia a deixaram para traz.

Warcelon Duque